sábado, 23 de abril de 2011

Sexo em trânsito

Não tem como explicar nossa relação. Me chame de ‘moderninha’ mas é puramente física. Nossos corpos se encontram e se encaixam.
Busco sempre preencher suas curvas.
Nos adaptamos.
Assim que o ônibus chega sei que vou te encontrar, sei que, mais uma vez, nossos corpos se unirão.
Suamos juntos. Sinto seu cheiro, sua pele de mel.
Estamos aqui, juntos, mas nem mesmo nossa proximidade física nos faz encaramos nos olhos.
Não conheço seu olhar. A órbita gira e não permanece em um ponto fixo, reflexivo.
Confesso, eu nem sempre fui assim. Já quis casar, ter filhos.
Sinto saudade dessa época.
Sinto saudade de buscar aconchego, de ser aquela que busca uma sombra refrescante nesse mundo de sol.
Quero uma brisa que me envolva, uma janela aberta.
...
Suspiramos.
...
A memória não é mesmo linear. Ela nos assusta, aparece!
...
Percebo agora o quanto essa vida transitual me incomoda.
Preciso cuidar de mim.
Respeitar meu corpo, minha pele.
Preciso de espaço, preciso de ar.
...
Preciso sentir a terra embaixo de meus pés.
Chega!
Não quero mais essa aproximação física, essa ralação perigosa e doentia.
Adeus!
Minha mente é fraca, meu corpo é limitado.
Chega!
Pra mim... Chega.
Chega desta dança corporal, deste esquivar de olhos, desta passagem mal paga, deste perfume barato. Chega do seu corpo colado, de ar contaminado, de suor compartilhado...
Chega de ônibus lotado.

Em memória do Amarelinho. Cinquentinha. Aquele a qual me dediquei tanto tempo... tantos reais e tantas aulas perdidas.